Trindade Universal é a definição dada pela espiritualidade para o conjunto dos três elementos gerais que constituem o princípio de tudo o que existe — Deus, espírito (princípio espiritual) e matéria (princípio material) —, colocando em destaque a posição soberana da divindade. Esta definição foi oferecida na resposta para a questão 27 de O Livro dos Espíritos, a uma proposição feita por Allan Kardec sobre o princípio das coisas. Além desta tríade, a mesma resposta introduz o fluido universal (também conhecido como fluido cósmico universal) como sendo um elemento especial acrescentado ao princípio material.
Na primeira parte (Livro Primeiro) de O Livro dos Espíritos, seu autor — Allan Kardec — trata especialmente das Causa Primárias, ou seja, da essência e origem de tudo o que existe no Universo, incluindo aí os possíveis multiversos, tanto dos ditos mundos físicos quanto dos mundos ditos espirituais. Depois de dedicar o primeiro capítulo a Deus, Kardec reserva o capítulo seguinte aos Elementos Gerais do Universo, perscrutando os limites do saber humano sobre a referida temática, para então chegar à observação da existência de duas naturezas distintas e que se integram para que efetivamente elas possam se manifestar, quais sejam:
De posse da definição desses dois elementos, o codificador do Espiritismo então propõe aos mentores espirituais a ideia de que esse dueto formaria o conjunto dos elementos primordiais de tudo o que existe, ao que os Espíritos o confirmam, mas acrescentam um terceiro elemento (Deus), formando assim a tríade essencial:
27. Haveria então dois elementos gerais do Universo: matéria e espírito?
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 27
“Sim, e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas; essas três coisas constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal...”
E logo em seguida, os amigos espirituais completam a resposta, apresentando o fluido universal:
“Contudo, ao elemento material é preciso acrescentar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, que é bastante grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, em um certo ponto de vista possamos classificá-lo como elemento material, o fluido universal se distingue por propriedades especiais; se ele fosse concretamente matéria, não haveria razão para que também o espírito não o fosse. Ele está colocado entre o espírito e a matéria; é um fluido, como a matéria é matéria, e — pelas suas inumeráveis combinações com esta última, e sob a ação do espírito — é suscetível de produzir a infinita variedade das coisas de que vocês não conhecem senão uma mínima parte. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e jamais adquiriria as propriedades que a força da gravidade lhe dá.”
Idem
Ver: fluido universal.
A Trindade Universal costuma ser representada pela forma geométrica de um triângulo, colocando a divindade estrategicamente no ângulo superior — representando assim a soberania de Deus acima de tudo o mais — e o fluido cósmico universal como uma espécie de anexo ao elemento matéria (princípio material). Ver imagem acima.
O conceito de Trindade Universal dentro da obra kardequiana pode ser interpretado como um símbolo, uma ideia cuja insígnia viria representar uma versão espírita ante a simbologia comum contida na figura de um conjunto que reúna três elementos essenciais para um determinado propósito, notadamente no exemplo da doutrina católica da “Santíssima Trindade”, que propõe a divisão da divindade nos elementos Pai, Filho e Espírito Santo. Outro exemplo de tríade se verifica no hinduísmo, formada pelas divindades Brahma, Vishnu e Shiva. Em Espiritismo, podemos citar a tríade formada pelas três grandes revelações da Lei de Deus: o Judaísmo sintetizado em Moisés, o Cristianismo sintetizado em Jesus e o Espiritismo, dito a Terceira Revelação
Ver: Santíssima Trindade e Terceira Revelação.
Para determinadas crenças, os símbolos podem ser sagrados e, por conseguinte, são elementos para adoração e aplicações místicas, como em rituais litúrgicos e sacramentais. Esta última designação não é, absolutamente, o caso da Trindade Universal espírita; ela é uma simbologia comum, como outras tantas insígnias, que têm como objetivo a função didática, sendo um recurso para melhor exemplificação e fixação de certas ideias, um mero instrumento educacional. Da mesma forma, podemos dizer da cepa espírita, desenhada pelos Espíritos para representar o trabalho do Criador.
Ver: Cepa Espírita.
Outro exemplo de trindade é mencionado por Allan Kardec na obra O Evangelho segundo o Espiritismo:
“[...] A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável...”
O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec - Cap. XIX, item 11
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