Quiromancia, a arte de ler as mãos, é uma milenar prática especulativa baseada na ideia de que as características (direção, tamanho e textura) das linhas da palma da mão seriam indicadores da sorte e destino do indivíduo. É chamado de quiromante a pessoa capaz de interpretar essas características e, assim, capaz de fazer esse tipo de adivinhação, seja para revelar o passado do consulente, seja para desvendar seu futuro. Além de não conter nenhum fundamento científico, a prática da quiromancia é absolutamente rechaçada pela Codificação Espírita e classificada como uma espécie de superstição, misticismo e, certos casos, de embuste.
Quiromancia, ilustração de Zé Otávio
A palavra origina-se dos termos gregos kheir (χείρων) = “mão” + manteia (eμαντεια) = “profecia”. Atribui-se ao filósofo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) o método de quiromancia mais comum cultuado no Ocidente (atribuição pouco creditável, no entanto), valendo-se da ideia de que a mão seria o “princípio órgão” humano. Fato é que essa prática está documentada nas mais antigas culturas, desde a Índia (pelo menos há cinco mil anos), Pérsia, Mesopotâmia, Egito, China e Império Romano, onde os adivinhos ledores da sorte gozavam de certo prestígio, ao mesmo tempo em que eram cobrados por resultados positivos e fatalmente castigados em caso de imprecisões.
Para seus adeptos, esse tipo de adivinhação é uma habilidade de “leitura sensorial”, pela qual o quiromante sabe interpretar os tracejados através do contato visual e ou táctil com as mãos, e cuja técnica pode ser — como tem sido — transmitida de geração em geração entre aqueles que supostamente conhecem os segredos que a natureza imprimiria nos vincos das mãos das pessoas.
Seu método consiste basicamente em atribuir um significado a cada uma das principais linhas impressas na mão e a partir daí ler os indicativos dos sulcos. Desta maneira, certa linha estaria vinculada ao “desenho da vida”, pela qual seria possível medir a longevidade, a saúde e a influência que o indivíduo pode exercer no seu meio ambiente. Outra, a “linha do casamento”, poderia ser um indicativo de quanto a pessoa vai contrair um matrimônio e a qualidade dos relacionamentos. A “linha da sorte” seria um indicador do destino profissional e financeiro do indivíduo. Para interpretar as linhas, considera-se sua espessura, seu seguimento e possíveis “ocorrências” no seu percurso (secção, ramificação e ranhuras nos vincos).
Nenhuma ciência ou religião tradicional admite a quiromancia, mas, ao contrário, contestam-na, tendo como principal argumento o de que empiricamente é possível desmentir a leitura adivinhatória pelos resultados concretos opostos aos das previsões. Por exemplo, quantos desafortunados — desgraçados, até — não trazem em suas mãos a impressão da “linha da sorte” bem delineada! Quantas pessoas têm tracejados muitíssimo semelhantes em suas mãos e, contudo, têm destinos absolutamente diferentes!
A Adivinha, pintura de Caravaggio
Para a Doutrina Espírita, a quiromancia se assemelha a tantas outras práticas de futurologia, a exemplo da cartomancia, astrologia, horóscopo etc., cultuada desde os primórdios da humanidade como elementos típicos do misticismo e da superstição, fundada na atração popular pelo curioso e pelo sobrenatural, mas também muito alimentada pelo interesse de embusteiros em explorar a boa-fé dos menos instruídos.
A mediunidade, e por extensão toda a prática espírita, por vezes é associada às velhas práticas de adivinhação à qual a arte quiromântica se assemelha, razão pela qual Allan Kardec — porta-voz pioneiro da Terceira Revelação — fez questão de assinalar como coisa bastante distinta do Espiritismo:
"(...) em razão de sua própria natureza, e do respeito que se deve às almas daqueles que viveram, é também irracional quanto imoral ter escritório aberto de consultas ou de exibições dos Espíritos. Ignorar essas coisas, é ignorar o abc do Espiritismo; e quando a crítica o confunde com a cartomancia, a quiromancia, os exorcismos, as práticas com os feitiços, malefícios, encantamentos, etc., ela prova que não sabe dele a primeira palavra; ora, negar ou condenar uma doutrina que não se conhece é faltar à lógica mais elementar; emprestar-lhe ou lhe fazer dizer precisamente o contrário daquilo que ela diz, é da calúnia ou da parcialidade"
Allan Kardec, Revista Espírita - jan. de 1869: 'Processo das envenenadoras de Marseille'
Os tipos de atendimento e serviço de adivinhação característicos como os de quiromancia são comumente associados a interesses pessoais — quer seja qualquer ganho financeiro, quer seja prestígio ou outra mesquinharia semelhante, por exemplo exibicionismo. Uma das consequências de tais explorações é a abertura que o embusteiro dá à presença de Espíritos mais imperfeitos, habituados a aproveitar-se deste para efetuar travessuras ridículas, e, quando não, entidades obsessoras que o arrastam para as mais perigosas situações de perturbações espirituais das quais o bom praticante espírita não se compraz em tomar parte.
"Como é mais cômodo ter as coisas na mão, para ter compadres dóceis, o que não se encontra em toda parte, alguns organizam ou fazem organizar reuniões onde se ocupam de preferência daquilo que precisamente o Espiritismo desaconselha, e onde há o cuidado de atrair estranhos que nem sempre são amigos. Ali o sagrado e o profano estão indignamente confundidos; os mais venerados nomes são misturados às mais ridículas práticas de magia negra, acompanhadas de sinais e termos cabalísticos, talismãs, tripés sibilinos e outros acessórios. Alguns adicionam, como complemento, e por vezes com objetivo de lucro, a cartomancia, a quiromancia, a borra de café, o sonambulismo pago etc. Espíritos complacentes, que aí encontram intérpretes não menos complacentes, predizem o futuro, leem a buena-dicha, descobrem tesouros ocultos e tios na América e, caso necessário, indicam o curso da bolsa e os números premiados na loteria. Depois, um belo dia, a justiça intervém, ou a gente lê nos jornais a descrição de uma sessão espírita à qual o autor assistiu e conta o que viu; o que viu com seus próprios olhos."
Allan Kardec, Revista Espírita - março, 1863: 'Falsos irmãos e amigos ineptos'
A mera especulação do futuro e a curiosidade quanto ao destino das pessoas em face das coisas terrenas é, em suma, demonstração de imperfeição a que o Espiritismo propõe sublimar despertando nas consciências o interesse pelas coisas superiores, os valores espirituais, aplicáveis para todo o sempre e em qualquer lugar.
Desta feita, quiromancia é decididamente uma prática adversa à Doutrina Espírita.
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