Obras Básicas do Espiritismo, ou Obras Fundamentais da Codificação Espírita são o conjunto do trabalho literário de autoria de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, contendo assim “a base” da Doutrina dos Espíritos, quer dizer, os fundamentos da Revelação Espírita. No contexto de Kardec ser o interpretador e sistematizador do ensinamento dos Espíritos superiores que, sob a liderança do Espírito Verdade, nele concentraram a Terceira Revelação, as obras do codificador são consideradas então como a Codificação do Espiritismo, no sentido bibliografia fundamental da síntese doutrinária.
Ver também: Codificação do Espiritismo, sobre o processo de sistematização da doutrina.
Dentro desse conjunto, destacam-se os cinco principais livros, algumas vezes chamados de “pentateuco kardequiano”, em alusão aos primeiros cinco livros bíblicos, cuja autoria é atribuída a Moisés, que constitui a base do Judaísmo. São eles:
Obras Básicas de Allan Kardec para a Codificação Espírita
Como os demais livros e opúsculos publicados por Kardec são desdobramentos dos postulados desse pentateuco, certos divulgadores costumam enumerá-los como sendo as "cinco obras básicas" e o restante da produção kardequiana como as "obras complementares". Outros, no entanto, desaprovam essa divisão e ressaltam que a codificação espírita é composta por todas as publicações de Allan Kardec.
Embora a Revista Espírita tenha sido lançada para ser uma espécie de “laboratório teórico” acerca da pesquisa espírita — portanto, espaço de ideias experimentais —, estudiosos espíritas colocam toda a sua coleção, enquanto editada por Kardec, na conta de conteúdo fundamental para se compreender especialmente o desenvolvimento do movimento espírita.
"Sendo a Revista Espírita um terreno de estudo e de elaboração dos princípios, e nela dando sem rodeios a nossa opinião, não tememos empenhar a responsabilidade da Doutrina, porque a Doutrina a adotará, se for justa, e a rejeitará, se for falsa."
Allan Kardec Revista Espírita - julho, 1868: 'A geração espontânea e A Gênese'
Lançada em janeiro de 1858 com o subtítulo “Jornal de Estudos Psicológicos”, a Revista Espírita foi editada mensalmente pelo codificador espírita até o desfecho de sua encarnação, em março de 1869, reunindo notícias, correspondências e apreciações sobre os mais diversos assuntos relacionados ao Espiritismo, configurando-se assim como uma fecunda fonte de estudo espírita.
Outros trabalhos menores publicados de Kardec, mas merecidamente apreciáveis como parte da codificação espírita:
Em 1870, onze anos depois da desencarnação de Allan Kardec, veio a público o livro Obras Póstumas, contendo uma compilação de textos, alguns deles até então inéditos, atribuídos ao codificador espírita. Dentre esses textos, anotações pessoais narrando os bastidores da descoberta e verificação da fenomenologia espírita, bem como o trabalho de pesquisa pessoal e preparativos para o lançamento de O Livro dos Espíritos.
Este livro foi editado por Pierre-Gaëtan Leymarie, então representante legal da entidade herdeira do legado espírita de Kardec e responsável: Sociedade Anônima para a continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec. Com isto, a tradição espírita tem contado esta obra como parte da codificação do Espiritismo.
Contudo, a partir de apanhados históricos evidenciando desvios doutrinários de Leymarie na condução de continuador da obra de Kardec, o próprio conteúdo de Obras Póstumas passou a ser colocado sob suspeita, notadamente desde quando se verificou a adulteração de A Gênese a partir da 5ª edição, três anos depois que Kardec desencarnou.
O projeto Cartas de Kardec propõe o resgate dos documentos originais de Allan Kardec e toda a sua correspondência espírita a fim de uma melhor contextualização do desenvolvimento da doutrina. Desse modo, todo o material autêntico provindo da autoria de Kardec é acervo válido a ser apreciado como integrante do conjunto de obras básicas do Espiritismo. Em face disso, o projeto visa resgatar, catalogar e publicar contextualizadamente todo o material restante dos documentos originais do codificador, como o acervo histórico coletado pelo pesquisador espírita Dr. Canuto Abreu, que foi a motivação inicial deste projeto.
Allan Kardec, codificador do Espiritismo
As obras básicas, ou codificação espírita, é o ponto de partida para o estudo da Doutrina Espírita, é o alicerce, a base doutrinária. Mas não é o seu encerramento, a sua completude; o Espiritismo é uma doutrina cujo uma das suas caraterísticas é a de uma ciência; portanto, é necessariamente progressista, de contínuo estudo e pesquisa, acompanhando o desenvolvimento das capacidades humanas para a compreensão da natureza superior da espiritualidade e, com isso, para o recebimento de novas revelações dos Espíritos.
A obra de Allan Kardec não tem o caráter de sagrada e perfeita — como, por exemplo, a Bíblia é para os católicos e o Alcorão é para os muçulmanos; a produção kardequiana, como todo e qualquer conhecimento oferecido, deve ser estuda e continuamente posta em análise ao passo da evolução da epistemologia espírita, ou seja, das próprias capacidades de se compreender o Espiritismo. Isto implica na admissão que nos postulados contidos na literatura kardecista possa caber revisão — seja das ideias particulares do codificador espírita, seja do acolhimento dos ensinamentos dados pelos mentores espirituais — como, aliás, no próprio transcorrer de sua trajetória carnal, Kardec o fez algumas vezes — embora tenham sido revisões acerca de ínfimos detalhes, enquanto os fundamentos doutrinários permaneceram e até hoje têm permanecido em toda a sua justeza com a razão e a lógica.
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