Ubiquidade, ou onipresença, é a capacidade de estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo, classicamente atribuída exclusivamente a Deus. Esta faculdade implica também na aptidão para captar as impressões de todas as ocorrências de todas as partes e para interagir com todos os acontecimentos. Assim, diz-se que a divindade está em todo lugar, tudo vê, tudo sente e em tudo interage. Na codificação espírita, Allan Kardec sonda a possibilidade de também os Espíritos terem o dom da ubiquidade, anotando que — conforme o ensino espiritual —, se não em absoluto, como no caso da ubiquidade de Deus, os Espíritos irradiam sua consciência, através da expansão do seu perispírito, e alcançam distâncias mais ou menos longas, conforme seu grau evolutivo.
Em Deus está a perfeição absoluta. Em tudo o mais há relativização. Nestes termos, a perfeita ubiquidade é uma exclusividade da Divindade, porque se a qualquer outro ser fosse dada a perfeição dessa capacidade, este seria absolutamente como Deus, e assim deixaria de haver um ser supremo — que é um dos atributos da Divindade.
Para começarmos a compreender melhor como é possível que Deus esteja presente e atuante em toda e qualquer parte do Universo, e a todo o instante, podemos figurar o pensamento de Deus como um fluido...
“Seja assim ou não o pensamento de Deus, ou seja, que ele atue diretamente ou por intermédio de um fluido, para a facilidade de nossa inteligência, vamos representá-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente preenchendo o Universo infinito, penetrando todas as partes da criação: a natureza inteira está mergulhada no fluido divino; ora, em virtude do princípio que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que o todo, cada átomo desse fluido, se assim podemos nos exprimir, possuindo o pensamento — isto é, os atributos essenciais da divindade — e estando esse fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência e à sua solicitude; não há nenhum ser, por mais insignificante que pareça, que não esteja repleto desse fluido. Então nós estamos constantemente na presença da divindade; não há uma só das nossas ações que possamos subtrair de seu olhar; nosso pensamento está em contato incessante com o seu pensamento, e é com razão que se diz que Deus lê os mais profundos segredos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.”
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o EspiritismoAllan Kardec - Cap. II, item 24
A ubiquidade absoluta é um atributo da Divindade, de fato; porém, em se considerando graus relativos dessa faculdade, eis que se torna factível a atribuirmos também aos Espíritos. Nisso sentido é que verificamos a obra kardequiana descrever a ubiquidade espiritual, como segue:
Os Espíritos têm o dom da ubiquidade? Por outras palavras: o Espírito pode se dividir, ou existir em vários pontos ao mesmo tempo?
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 92
“Não pode haver divisão do um mesmo Espírito; mas cada qual é um centro que irradia para diversos lados e é por isso que ele parece estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Vejam o Sol: ele é somente um, mas se irradia em todo o seu entorno e leva seus raios para muito longe. Contudo, ele não se divide.”
Na sequência, os benfeitores espirituais acrescentam o esclarecimento de que nem todos os Espíritos irradiam com a mesma força, pois “essa força depende do grau de pureza dos Espíritos.” (Idem - questão 92-a)
A explicação espiritual da ubiquidade dos seres inteligentes partiu de uma ideia trivial que considerava talvez que os Espíritos pudessem se dividir, ou multiplicar-se, mantendo partes de sua consciência em diversos lugares e, com isso, pudesse, por exemplo, ter visões à distância ou se manifestar ao mesmo tempo em distintos lugares, como nos fenômenos de bicorporeidade. Por isso, a resposta incisiva à questão anterior é a de que a entidade espiritual é indivisível, mas que se irradia e expande sua relativa capacidade de ubiquidade, cujo alcance e intensidade de ação depende do grau de pureza de cada um.
Fica evidente, portanto, a diferença da ubiquidade divina e a dos Espíritos:
“Pelo princípio da soberana inteligência, nada impede que se admita um centro de ação, um foco principal irradiando sem cessar, inundando o Universo de seus eflúvios, como o Sol faz com a sua luz. Mas onde está esse foco? Isso é o que ninguém pode dizer. É provável que ele não esteja mais fixo em um determinado ponto do que a sua ação, e que ele percorra incessantemente as regiões do espaço sem fim. Se simples Espíritos têm o dom da ubiquidade, em Deus essa faculdade há de ser sem limites. Estando Deus preenchendo o Universo, nós poderíamos ainda admitir — a título de hipótese — que esse foco não precise se transportar e que ele se forme sobre todas as partes onde a soberana vontade julgue conveniente que se produza, donde podemos dizer que ele está em toda parte e em parte nenhuma.”
A Gênese, os Milagres e as Predições - Cap. 2, item 29
A ação multidirecional dos Espíritos é teorizada pelo codificador espírita nos seguintes termos:
“O Espiritismo nos faz compreender como os Espíritos podem se achar entre nós. Comparecem com seu corpo fluídico ou espiritual e sob a aparência que nos levaria a reconhecê-los, caso se tornassem visíveis. Quanto mais elevados são na hierarquia espiritual, tanto maior é neles o poder de irradiação. É assim que possuem o dom da ubiquidade e que podem estar simultaneamente em muitos lugares, bastando para isso que enviem a cada um desses lugares um raio de suas mentes.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec - Cap. XXVIII, item 5
O alcance da consciência espiritual expandida tem relação com a propriedade de expansibilidade do seu próprio perispírito, que é o corpo fluídico do Espírito e, ao mesmo tempo, o seu órgão sensitivo e seu instrumento de manifestação no ambiente físico. Essa expansibilidade perispiritual se dá em razão desse corpo ser dotado de plasticidade; com isso, ao irradiar, esse campo sensitivo e ativo faz com que a consciência do indivíduo se faça presente à distância, por todas as direções a partir do seu ponto de irradiação, de acordo com a elevação moral do indivíduo.
No tocante ao caráter relativo da ubiquidade espiritual, levando em conta a progressão de cada indivíduo, convém trazemos um depoimento, fruto de uma comunicação mediúnica à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, pela qual o Espírito Channing faz a seguinte figuração a respeito:
“Vocês perguntaram esta noite qual seria a hierarquia dos Espíritos quanto à ubiquidade. Comparem-nos a um aeróstato que se eleva pouco a pouco nos ares. Enquanto ele rasteja na terra, somente um círculo muito pequeno pode percebê-lo, mas à medida que ele se eleva o círculo se alarga para ele e, quando chega a uma certa altura ele aparece a um número infinito de pessoas. É assim conosco; um mau Espírito que ainda esteja preso à Terra permanece num círculo restrito, no meio das pessoas que o veem. Que ele cresça em virtudes e poderá conversar com muitas pessoas; e quando tiver se tornado um Espírito superior, ele poderá irradiar como a luz do Sol, mostrando-se a várias pessoas e em diversos lugares ao mesmo tempo.”
Channing
O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - 2ª Parte, Cap. XXV, item 282, perg. 30°
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