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Índice de verbetes


Perispírito



Perispírito é o envoltório fluídico do Espírito, espécie de corpo espiritual, inerente a todos os indivíduos e que, para os encarnados, serve como o liame, o laço que une o organismo físico e a alma (Espírito), também cumprindo aí o papel de órgão sensitivo pelo qual a consciência espiritual recebe as impressões físicas, além de ser o agente transmissor pelo qual o Espírito comanda os movimentos corporais. Diz-se que sua natureza é semimaterial por ser constituída de uma substância muito sutil em relação ao que atualmente conhecemos como matéria, mas ainda assim é uma forma material, com propriedades especiais que permite ao Espírito (o ser desencarnado), dentre outras coisas, produzir fenômenos físicos e se manifestar na nossa dimensão terrena, razão pela qual Allan Kardec o descreve como “a chave para a solução de muitos mistérios antigos”, especialmente no campo da mediunidade. Sua composição vem da combinação do fluido cósmico universal com certos materiais próprios do mundo ao qual o Espírito está vinculado, cuja substância é mais ou menos sutil, ágil e expansiva conforme o estágio evolutivo do indivíduo, passando por um processo de depuração na medida em que o Espírito progride intelectual e moralmente. A tradição espiritualista oferece diferentes nomes (corpo astral, corpo etéreo, psicossoma etc.) e diversas concepções para o que em Espiritismo é chamado simplesmente de perispírito. Uma das teorias espiritualistas é a de que ele seria composto de camadas corporais específicas (algumas doutrinas falam em até sete corpos); uma concepção igualmente bastante popularizada no espiritualismo oriental é a de que o perispírito é dotado de centros de forças, ou chacras (chakras), que haurem, concentram e canalizam energias que transitam entre as dimensões física e espiritual dos seres. Na codificação espírita, encontramos um valoroso roteiro da constituição, das funções e das propriedades perispirituais.


Representação gráfica do perispírito



Etimologia de perispírito

A palavra perispíritopérisprit no original em francês — é empregada pela primeira vez em 1857, na 1ª edição de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec; o termo aparece como um dos tópicos do capítulo primeiro da segunda parte da obra e sua origem é explicada no comentário dentro da questão 42 (correspondente à questão 93 da 2ª edição em diante):

“Como o gérmen de um fruto é coberto pelo perisperma, do mesmo modo o Espírito propriamente dito é coberto de um envoltório que, por comparação, podemos chamar perispírito.”

Trata-se, portanto, de um neologismo, criado pelo codificador espírita, para definir o conceito que o Espiritismo traz da natureza material — ou semimaterial — que compõe os indivíduos espirituais. A justificativa para o uso de novos vocábulos está nas primeiras linhas da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Para coisas novas é preciso palavras novas, como a clareza da linguagem assim o exige, para evitar a confusão inseparável dos múltiplos significados dos mesmos termos.” Quanto à originalidade dos vocábulos novos usados nas obras da codificação espírita, Kardec divide os créditos — e os ônus, em face dos críticos — com a espiritualidade:

“Vê-se que, quando se trata de expressar uma ideia nova para a qual falta um termo na língua, os Espíritos sabem perfeitamente criar neologismos. Essas palavras eletromedianímico e perispirítico não são nossas. Aqueles que têm criticado por nós termos criado as palavras espírita, espiritismo e perispírito, que não tinham termos equivalentes, poderão então fazer a mesma crítica aos Espíritos.”
O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - nota do item 98, 2ª parte, cap. V


No Vocabulário Espírita contido no opúsculo Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, de 1858, o mesmo autor destrincha a morfologia da palavra em questão, oriunda de um termo grego com outro em latim: “de peri, ao redor, e spiritus, espírito”, espelhando a ideia do termo perisperma: casca + endosperma (parte nutritiva de certas sementes).

A partir da sua segunda edição, de 1860, o conteúdo revistado de O Livro dos Espíritos já traz o conceito deste vocábulo já na sua Introdução; depois de pontuar que a pessoa encarnada tem um corpo material, uma alma (Espírito encarnado no corpo) e “um liame que une a alma ao corpo” que funciona como o “princípio intermediário entre a matéria e o Espírito”, a sequência do texto vai explicar o que é esse “liame”:

“O liame, ou perispírito, que une o corpo e o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro, porém o Espírito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, mas que pode se tornar acidentalmente visível, e até palpável, como acontece no fenômeno das aparições.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Introdução, item VI


Contexto histórico e aplicação do conceito

Um pensamento muito comum para o leigo é o de que o Espírito e o mundo espiritual sejam completamente abstratos, sem forma física e, portanto, não tenham nenhuma relação com qualquer substância material; nestas condições, é compreensível pensar que os seres espirituais não tenham como interagir fisicamente com o nosso mundo materializado. Quando eclodiu a moda das Mesas Girantes e toda a extraordinária fenomenologia do Espiritualismo Moderno (meados do século XIX), os materialistas acostumaram-se a ridicularizar a ideia de que os Espíritos fossem os agentes das manifestações de efeitos físicos com a ironia típica de que “Espíritos não têm mãos para levantar mesas”.

É bem verdade que desde as mais antigas tradições espiritualistas, também passando por alguns filósofos, já se ensinava que os Espíritos (desencarnados) têm um organismo material, inclusive semelhante à forma humana, conquanto de uma natureza muito sutil se comparada à matéria conhecida na Terra. Os egípcios denominavam-no de ka ou bai, indicando ser uma forma semelhante ao corpo físico, e de Sahu, o Espírito propriamente dito; eles afirmavam que o ka reproduzia exatamente os traços do corpo físico dos encarnados. Os gregos, por sua vez, nomeavam o perispírito como corpo etéreo e, com base nos poemas de Orfeu, acreditavam que nos Espíritos atrasados este corpo possuía manchas que caracterizavam as faltas cometidas, daí ser necessário ao Espírito voltar à Terra para depurá-lo. A cabala judaica denomina o perispírito de rouach, os budistas de kuma-rupa, os chineses de khi e os hindus de mano-maya-kosha. Os ocultistas, esotéricos e teosofistas preferiram denominá-lo de corpo astral; os neognósticos de aerossoma; o filósofo e cientista alemão Leibniz (1646-1716) preferia chamá-lo simplesmente de corpo fluídico, o filósofo inglês Ralph Cudworth (1617-1688) denominava-o mediador plástico. Há referência sua até mesmo na Bíblia; na 1ª epístola do apóstolo Paulo aos Coríntios, 15:44, consta: “Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual”; além disso, obras mediúnicas precursoras do Espiritismo já denotavam que o mundo espiritual não era tão desmaterializado como muitos pensavam; as obras do polímata sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772) já falavam de casas, instrumentos e máquinas presentes nas dimensões do pós-morte.


Representação gráfica do perispírito


Allan Kardec tinha certamente conhecimento dessas concepções, mas era preciso verificar com o rigor científico; após comprovar a realidade dos fenômenos, ele procurou a solução para esta questão e se deparou com a revelação desse corpo fluídico, ao qual deu o nome perispírito, agora também demonstrado pelas novas experimentações mediúnicas, dentre as quais a de materialização espiritual, em que essas formas se tornam visíveis e tangíveis. Desde essa comprovação ele pode exprimir:

“O Espírito, portanto, não é um ser abstrato, indefinido, que só o pensamento pode conceber; ele é um ser real, definido, que em certos casos torna-se apreciável pelo sentido da visão, da audição e do tato.”
O Livro dos Espíritos - Introdução, item VI


Em sua obra doutrinária, Kardec então dará ênfase à ideia de constituição tripla do indivíduo humano — organismo físico, perispírito e alma (Espírito encarnado) — e dupla no ser espiritual que sobrevive à morte: perispírito e Espírito (alma desencarnada):

“Primeiramente, imaginemos o Espírito em união com o corpo; o Espírito é o ser principal, porque é o ser pensante e sobrevivente; o corpo não passa de um acessório do Espírito, um invólucro, uma veste que ele larga quando está gasta. Além desse envoltório material, o Espírito possui um segundo, semimaterial, que o prende ao primeiro; na morte, ele se desprende daquele envoltório, mas não do segundo, ao qual nós damos o nome de perispírito. Esse envelope semimaterial, que tem a forma humana, constitui para ele um corpo fluídico, vaporoso, mas que, por ser invisível para nós, no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria.”
O Livro dos Médiuns - 1ª parte, cap. I, item 3


O perispírito, portanto, é um dos elementos fundamentais da Doutrina Espírita; ele é imprescindível para uma compreensão mínima das relações entre a espiritualidade e o mundo material, bem como saliente Kardec:

“O estudo das propriedades do perispírito, dos fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma abre novos horizontes à ciência e dá a chave de uma multidão de fenômenos até então incompreendidos por falta de conhecimento da lei que os rege; fenômenos negados pelo materialismo, porque se relacionam com a espiritualidade, qualificados por alguns como milagres ou feitiçarias, conforme suas crenças. Tais são, entre muitos, os fenômenos da vista dupla, da visão à distância, do sonambulismo natural e artificial, dos efeitos psíquicos da catalepsia e da letargia, da presciência, dos pressentimentos, das aparições, das transfigurações, da transmissão do pensamento, da fascinação, das curas instantâneas, das obsessões e possessões etc. Demonstrando que esses fenômenos também fazem parte de leis naturais, assim como os fenômenos elétricos, e as condições normais nas quais podem se reproduzir, o Espiritismo destruiu o império do maravilhoso e do sobrenatural e, conseguintemente, a fonte da maioria das superstições.”
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, Allan Kardec - cap. I, item 40


A partir de uma apurada pesquisa a respeito deste fundamento, o saudoso estudioso espírita Zalmino Zimmermann definira: “O Perispírito é, por excelência, o elo interexistencial.” (O Perispírito, Prefácio)


Tessitura perispiritual

Depois de confirmar que os Espíritos não são absolutamente imateriais e que trazem consigo um envoltório semimaterial — semimaterial no sentido de que sua substância é bastante depurada em comparação com a matéria conhecida no nosso mundo, mas bastante densa com referência aos Espíritos — a revelação espírita nos ensina que a constituição desse envoltório perispírito, na sua forma mais simples, é composta basicamente do fluido universal (a matéria primitiva, originária de todas as substâncias físicas) mais os elementos materiais extraídos do mundo em que esteja, razão pela qual os instrutores invisíveis vão dizer: “passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como vocês mudam de roupa.” (O Livro dos Espíritos, questão 94) Esta circunstância também se aplica às entidades mais elevadas, conforme eles respondem:

Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, eles tomam um perispírito mais grosseiro?
“É necessário que eles se revistam da vossa matéria, já o dissemos.”
O Livro dos Espíritos - questão 94-a


Compreendendo essa condição natural, Allan Kardec apresenta uma exemplificação concreta:

“Júpiter sendo considerado como um mundo mais avançado em comparação com a Terra, onde a vida corporal não tem a materialidade da nossa, os envoltórios perispirituais lá devem ser de uma natureza infinitamente mais quintessenciada do que na Terra. Ora, assim como não poderíamos existir naquele mundo com nosso corpo carnal, nossos Espíritos não poderiam penetrar nele com seu perispírito terrestre. Ao deixar a Terra, o Espírito deixa aí o seu invólucro fluídico e se reveste de outro apropriado ao mundo para onde deva ir.”
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo - cap. XIV, item 8


Estando vinculado a um determinado meio ambiente, o perispírito então contém ao mesmo tempo vitalidade (eletricidade, na linguagem de Kardec, seguindo o jargão científico do seu tempo), fluido magnético (espécie de alimento espiritual) e até certo ponto matéria inerte (O Livro dos Espíritos - questão 257). Identificando-se com as condições próprios dos mundos, o seu nível de densidade e sutileza vai variar tanto quanto os incontáveis níveis evolutivos dos mundos; nos Espíritos inferiores e nos mundos mais primitivos, sua composição é grosseira e se aproxima muito da matéria bruta (Obras Póstumas, Allan Kardec - 1ª parte, ‘Manifestações dos Espíritos’, item 9), enquanto nos Espíritos puros e nos orbes superiores ele se torna tão etéreo que como se não existisse (O Livro dos Espíritos, questão 186).

De maneira geral, diz-se que a natureza perispirítica é fluídica porque sua estrutura essencial é incompreensível para o nosso entendimento atual, e a terminologia do século XIX denominava de fluido toda substância cuja essência escapava às observações concretas. Outra maneira de se referir à tessitura do perispírito é pela denominação de matéria quintessenciada.

Por essas evidências, fica constatada a materialidade do mundo espiritual; aliás, até mesmo o Espírito em si não é um nada, uma abstração qualquer, mas é algo concreto, descrito como uma “centelha etérea”, cuja cor “varia do escuro a uma cor brilhante do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro.” (O Livro dos Espíritos - questões 88 e 88-a).


Funções

Para fins didáticos, podemos atribuir ao perispírito as seguintes funções: identificadora, instrumental, organizadora, sensitiva e mantenedora, as quais detalharemos imediatamente:

A primeira atividade essencial do perispírito é a função identificadora, pela qual especifica fisicamente a individualidade de cada ser, assim como o corpo humano representa cada pessoa. Apesar dessa conexão intrínseca entre ambos, é preciso não confundir um como outro, como diz o pioneiro espírita: “Portanto, o perispírito é parte integrante do Espírito, como o corpo faz parte do homem; mas o perispírito não é o Espírito, assim como o corpo não é o homem, porque o perispírito não pensa; ele é para o Espírito aquilo que o corpo é para o homem: é um agente, um instrumento de sua ação.” (O Livro dos Médiuns - 2ª parte, cap. I, item 55)

Para os Espíritos ainda em processo evolutivo, ele normalmente mantém a aparência da sua encarnação anterior (O Livro dos Espíritos - questão 150-a), mas, conforme as suas capacidades evolutivas, o Espírito pode moldar a forma perispirítica como bem quiser (Veja adiante o tópico Propriedades do corpo fluídico).

Há uma relação direta entre progresso espiritual e a constituição do perispírito de cada indivíduo: quanto mais evoluído for o Espírito, mais sutil, ágio e expansivo será seu corpo perispiritual. Isso implica que também o perispírito passa por um processo de depuração:

“Esse envoltório se espiritualiza à medida que a alma se eleva em moralidade. As imperfeições da alma são como camadas brumosas que obscurecem sua visão; cada imperfeição de que ela se desfaz é uma mancha a menos; todavia, só depois de ser completamente depurada é que desfruta da plenitude de suas capacidades.”
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo - cap. II, tem 33


Nesse decurso depuratório do perispírito, a Lei de reencarnação exerce um papel fundamental; o símbolo da videira espírita (emblema do Espiritismo, que representa o sublime trabalho do Criador: Deus) ilustra esse processo de purificação material através das sucessivas reencarnações. Nesse mesmo contexto, Kardec usou ainda a metáfora da fabricação do vinho:

“Encontramos um exemplo material dos diferentes graus da depuração da alma no suco da vinha. Ele contém o licor chamado espírito ou álcool, mas enfraquecido por uma imensidade de matérias estranhas que alteram a sua essência; esse licor só chega à pureza absoluta depois de várias destilações, em cada uma das quais ele se despoja de algumas impurezas. O alambique é o corpo no qual a alma deve entrar para se depurar; as matérias estranhas são como o perispírito que também se depura à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.”
O Livro dos Espíritos - comentário da questão 196-a


Portanto, além de distinguir fisicamente o indivíduo na dimensão espiritual, o corpo perispiritual demonstra concretamente o estágio evolutivo do Espírito, por exemplo, através do seu grau de luminosidade.

A segunda atividade primordial é a função instrumental, de possibilitar ao ser consciencial (Espírito) interagir no mundo material (considerando aí que o mundo espiritual também tem sua materialidade); é nesse sentido que se diz ser necessária a união do princípio espiritual com o princípio material (O Livro dos Espíritos, questão 25). O perispírito é então o instrumento com o qual o ser inteligente sente, toca e manipula a matéria, tal como a alma usa o corpo humano para interagir na dimensão física. Dentro dessa função de ser o intermediário entre o espiritual e o material está o trabalho de fazer a ligação entre o Espírito e o organismo humano no processo de encarnação:

“O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; [...] é o princípio da vida orgânica, porém não o princípio da vida intelectual: a vida intelectual está no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores.”
O Livro dos Espíritos - questão 257


Notemos, pois, duas ações efetivas do perispírito, conforme esta última citação, que então denotam mais duas funções básicas do veículo astral, a saber:

  • Princípio da vida orgânica: para as ciências regulares (a Genética, em especial) a formação normal do corpo humano, com suas características físicas, se dá unicamente pela contribuição dos genes dos progenitores (pai e mãe biológicos) através de um processo puramente mecânico, regido pelas propriedades da matéria, que então transmitem ao novo ser os traços hereditários de seus ascendentes. A Doutrina Espírita acrescenta nesse processo genético a contribuição do perispírito, como um dos fatores elementares para dar a forma do corpo somático do novo indivíduo, porque é através dele que os genes paternos são organizados de modo que cada molécula saiba onde atuar a fim de estruturar os órgãos, os membros e todas as repartições da máquina humana. É importante considerar aqui que as características materiais do perispírito igualmente podem influenciar na forma física em desenvolvimento, donde muitas vezes se explica o que normalmente é chamado de “aberração da natureza”, no sentido de quebra do padrão genético (por exemplo, quando um filho nasce com alguma deficiência física, a despeito da perfeita qualidade dos genes dos seus pais e de qualquer ocorrência externa que pudesse interferir durante a sua gestação ou parto). Por esse aspecto, reconhecemos a sua função organizadora, que persiste em constante atividade durante a vida do encarnado, regendo o seu organismo físico.

  • Agente das sensações exteriores: é por meio do perispírito que a consciência (Espírito) recebe as impressões físicas, tal como os nervos transmitem os impulsos sensoriais captados pelos órgãos corpóreos. No estado espiritual, o corpo perispiritual como um todo serve como um órgão unificado para todas as sensações (visão, audição, tato e todas as sensações, inclusive outras tantas possíveis que ainda desconhecemos), de modo que qualquer parte do envoltório espiritual é ao mesmo — por analogia — o olho e o ouvido do Espírito, bem como os demais tipos de órgãos sensitivos. A emissão também pode ser inversa, isto é, do Espírito para o corpo físico: “Quando o ato é de iniciativa do Espírito, podemos dizer que o Espírito quer, o perispírito transmite e o corpo executa.” (Obras Póstumas, Allan Kardec - 1° parte, "Manifestações dos Espíritos", item 10). Por esse aspecto, reconhecemos a função sensitiva do perispírito.

Além disso, nos chamados “vivos”, é o perispírito quem mantém a ligação fluídica entre o Espírito e a máquina carnal, transmitindo-lhe o fluido vital, que dá a vitalidade necessária ao corpo material pelo tempo designado para a jornada reencarnatória do ser. Daí temos a compreensão da sua função mantenedora; nesse processo, o perispírito é como uma cópia fluídica do corpo humano, um ligado ao outro molécula a molécula e assim permanecendo até que a máquina carnal esteja minimamente organizada para manter o que chamamos de “vida”; quando esta máquina se desorganiza totalmente, resultando no fenômeno da morte, o perispírito começa a se descolar do cadáver. Aliás, sobre a tenacidade dessa ligação fluídica e o processo de desprendimento, Allan Kardec compartilha conosco suas preciosas reflexões:

“A observação prova que o desprendimento do perispírito no instante da morte não é completo subitamente; opera-se gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos; para alguns, é bastante rápido, e podemos dizer que o momento da morte é o da libertação, em poucas horas; mas para outros, principalmente naqueles cuja vida tenha sido toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido e algumas vezes demora dias, semanas e até meses, o que não implica ter no corpo a menor vitalidade, nem a possibilidade de voltar à vida, mas uma simples afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que sempre está em proporção com a preponderância que o Espírito — durante a vida — tenha dado à matéria. Com efeito, é racional conceber que, quanto mais o Espírito se identificou com a matéria, tanto mais penoso lhe seja se separar dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, assim como a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, e quando chega a morte, esse desprendimento é quase instantâneo. Tal é o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações ainda provam que, em certos indivíduos, a afinidade persistente entre a alma e o corpo é frequentemente muito penosa, pois o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e típico de certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte; ele se apresenta em alguns suicidas.”
O Livro dos Espíritos - comentário da questão 155-a


Entende-se que durante a vida encarnada o perispírito mantém um elo direto entre a dimensão material e espiritual do ser, e que nesse ínterim o corpo humano possa receber impressões — salutares ou nocivas — do estado psíquico do ser, da mesma forma que as ocorrências físicas podem afetar a estrutura perispiritual; é por isso que o Espiritismo ensina que o estado de saúde dos encarnados envolve a natureza dupla da pessoa, donde resulta que: “O perispírito desempenha um papel muito importante no organismo e numa multidão de afecções, que se liga tanto à fisiologia quanto à psicologia.” (A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo - cap. I, tem 39)

Sobre a origem das doenças humanas e os devidos tratamentos para o reestabelecimento da saúde do ser integral, a Revista Espírita">Revista Espírita certa vez deu voz a um ensaio de uma autoridade médica recém-desencarnada, o Dr. Morel Lavallée, nos seguintes termos:

“Se a doença ou a desordem orgânica, como se queira chamar, procede do corpo, os medicamentos materiais, sabiamente empregados, bastarão para restabelecer a harmonia geral. Se a perturbação vier do perispírito, se for uma modificação do princípio fluídico que o compõe, que se ache alterado, será preciso uma medicação em relação com a natureza do órgão perturbado, para que as funções possam retomar seu estado normal. Se a doença proceder do Espírito, não se poderá empregar, para a combater, outra coisa senão uma medicação espiritual. Se, enfim, como é o caso mais geral e, pode-se mesmo dizer, o que se apresenta exclusivamente, se a doença procede do corpo, do perispírito e do Espírito, será preciso que a medicação combata ao mesmo tempo todas as causas da desordem por meios diversos, para obter a cura. Ora, que fazem geralmente os médicos? Cuidam do corpo e o curam; mas curam a doença? Não. Por quê? Porque sendo o perispírito um princípio superior à matéria propriamente dita, poderá tornar-se a causa em relação a esta e, se for entravado, os órgãos materiais, que se acham em relação com ele, serão igualmente atingidos na sua vitalidade. Cuidando do corpo, destruireis o efeito; contudo, residindo a causa no perispírito, a doença voltará novamente quando os cuidados cessarem, até que se perceba que é preciso dirigir alhures a atenção, tratando fluidicamente o princípio fluídico mórbido.”
Dr. Morel Lavallée
Revista Espírita - fev. de 1867


Dentro desse processo de manutenção vital e de equilíbrio fisiológico, tanto no corpo humano quanto no corpo perispiritual, algumas tradições espiritualistas concordam com a existência e a funcionalidade de determinados centros de força, também conhecidos como chacras (chakras) ou mesmo centros vitais.


Principais centros de força, ou chacras


Propriedades

Como a natureza do perispírito não é perfeitamente compreendida pelo nosso conhecimento atual, é plausível considerarmos que ele tenha propriedades inimagináveis para nós; no entanto, pelo que a revelação espírita já nos proporcionou saber, podemos listar algumas delas, como segue:

  • Plasticidade: a fluidez das substâncias que compõem o perispírito lhe permite ser moldado para assumir feições variadas ao gosto do Espírito; em razão desta propriedade é que se diz que este pode aparecer fisicamente aos encarnados, exatamente pelo efeito de manipular sua estrutura perispirítica a fim de materializar a forma desejada. Neste caso, portanto, nos ditos fenômenos mediúnicos de aparição espiritual, o que se vê então é o perispírito, e não o Espírito propriamente dito.

  • Densidade: o envoltório espiritual é mais ou menos denso, ou mais ou menos fluídico; o grau de sua densidade implica na desenvoltura das suas capacidades: quanto menos denso, mais plasticidade, agilidade, luminosidade etc.

  • Ponderabilidade: sendo matéria, mesmo que muito etérea, a substância de que o envoltório fluídico é composto tem sua massa e volume, de modo que o perispírito tem seu peso e ocupa algum lugar no espaço — inclusive na dimensão espiritual, que de alguma forma também é materializada. O peso do perispírito é determinado sobretudo pelo padrão da vibração mental do indivíduo e isso implica em qual habitat onde ele pode gravitar pelo critério de compatibilidade material, obviamente condicionada ao progresso moral do Espírito. Ainda sobre propriedade, Zimmermann ressalta:

    “Entende-se, então, como o Espírito desencarnado pode sentir-se chumbado aos pântanos de psiquismo degenerado, que marcam as dimensões trevosas, ou naturalmente atraído para níveis superiores, condizentes com sua condição mental, a dizer, moral.”
    O Perispírito, Zalmino Zimmermann - cap. II

  • Luminosidade: o perispírito emite um brilho cuja intensidade é proporcional à pureza do próprio Espírito, ao passo que “as menores imperfeições morais a atenuam e a enfraquecem.” (O Céu e o Inferno, Allan Kardec - 2ª parte, cap. IV: ‘Clair’)

  • Penetrabilidade: a natureza etérea do perispírito lhe permite penetrar e atravessar qualquer matéria da nossa dimensão física, do que resulta que “não há como impedir que os Espíritos entrem num recinto fechado.” (Obras Póstumas, Allan Kardec - 1° parte, "Manifestações dos Espíritos", item 10). Contudo, algumas condições mentais inferiorizadas podem fazer com que o perispírito fique denso demais para quebrar certas barreiras físicas no nosso mundo; além disso, no mundo espiritual há outros níveis de matéria e em determinadas circunstâncias há formas sólidas e instransponíveis para os Espíritos ainda não totalmente aperfeiçoados.

  • Visibilidade: o invólucro perispiritual é visível ou invisível em variadas situações, algumas vezes por força do desejo do próprio Espírito; ele nunca pode ser ocultado dos Espíritos superiores, mas pode escapar da visão dos menos evoluídos. Na sua forma comum, é inapreciável aos olhos humanos, porém os Espíritos podem manipular seus fluidos de modo a materializar sua aparição.

  • Tangibilidade: por ter algum nível de matéria, o perispírito é fisicamente perceptível para seus semelhantes e para os Espíritos superiores; bem como pode ser tocado pelos encarnados, desde quando o Espírito se materializa, como nos fenômenos mediúnicos de aparição.

  • Sensibilidade geral: o perispírito como um todo é o órgão sensitivo absoluto do Espírito. Até onde possa irradiar sua presença fluídica, qualquer parte dele funciona como o seu olho, ouvido, tato etc.

  • Potência magnética: o corpo perispirítico é uma usina de forças magnéticas capaz de gerar, absorver e utilizar essas forças, por exemplo, através da emanação fluídica destinada a beneficiar outro ser (como na terapia do passe magnético). Através dessa capacidade o Espírito pode sentir e transmitir sentimentos e emoções a um ambiente ou diretamente a outrem, refletindo assim o estado moral e emocional do ser; por conta dessa faculdade, os Espíritos mais avançados conseguem interpretar as mais íntimas disposições alheias.

  • Expansibilidade: esta propriedade permite ao Espírito irradiar seu envoltório e assim ampliar seu campo sensitivo e de manifestação, permitindo-lhe receber as impressões do que se passa à distância, bem como exercer alguma atividade ao longe, por exemplo, produzir fenômenos como o de bicorporeidade. O seu raio de expansão está condicionado ao seu próprio progresso espiritual.

  • Unicidade: sendo o corpo que caracteriza as individualidades e permite a identificação dos Espíritos, o corpo etéreo de cada ser é único.

  • Perenidade: embora seja mutável e modelável, o perispírito não pode deixar de ser nem poder destruído. Interpretando esta propriedade, o pesquisador espírita Gabriel Delanne exprime:

    “A indestrutibilidade e a estabilidade constitucional do perispírito fazem dele o conservador das formas orgânicas; graças a ele, compreendemos que os tecidos possam se renovar, pelo que os novos ocupam o lugar exato dos antigos, e daí a manutenção da forma física, tanto interna como externa.”
    Evolução Anímica, Gabriel Delanne - cap. IV

  • Mutabilidade: semelhante ao que ocorre com o nosso corpo físico, cujas células se renovam constantemente sem comprometer a identidade do indivíduo, também “o envoltório perispiritual do mesmo Espírito se modificar com o progresso moral daquele Espírito a cada encarnação” (A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo - cap. XIV, item 10) sem que essa mutação descaracterize a identidade do ser espiritual nem comprometa a sua perenidade.

  • Odor: através do seu invólucro fluídico, os Espíritos também conservam e exalam um cheiro particular. Diz o autor espiritual André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, que “todas as criaturas vivem cercadas pelo halo vital das energias que lhes vibram no âmago do ser e esse halo é constituído por partículas de força a se irradiarem por todos os lados, impressionando-nos o olfato, de modo agradável ou desagradável, segundo a natureza do indivíduo que as irradia. Assim sendo, qual ocorre na própria Terra, cada entidade aqui se caracteriza por exalação peculiar.” (Ação e Reação - cap. 5)

  • Temperatura: o corpo astral tem ainda a propriedade de reter e transmitir calor ou frio; experimentações mediúnicas dão conta de uma variação de temperatura que os médiuns captam de um ou outro Espírito, desde uma espécie de gélido torpor típico em entidades sofredoras até uma cálida ternura peculiar nas entidades benevolentes.

Importa ressaltarmos que as capacidades perispirituais de cada indivíduo são mais ou menos desenvolvidas de acordo com a sua posição evolutiva; quanto mais moralizado for o Espírito, melhor capacitado será seu corpo fluídico.


Perispírito e mediunidade

Para quem conhece a conceituação e as propriedades do perispírito apresentadas pelo Espiritismo, fica fácil compreender a importância deste instrumento fluídico nos fenômenos mediúnicos, pelo qual o Espírito pode se manifestar perante os encarnados e manipular objetos sólidos do nosso mundo, inclusive com muita desenvoltura, por exemplo: transportar coisas, tocar um piano e operar cirurgias num corpo humano — tudo conforme as leis da natureza, sem ,{Milagre">milagres, sem magia, sem misticismo.

Quanto à dúvida sobre todas essas capacidades a pretexto de que a matéria perispirítica é demasiada etérea para agir sobre as formas rígidas e pesadas da nossa dimensão terrena, Allan Kardec contrapõe:

“Por que então ele não agiria sobre a matéria? É por que o seu corpo é fluídico? Ora, não é entre os fluidos mais rarefeitos, até mesmo entre os que consideramos imponderáveis — a eletricidade, por exemplo —, que o homem encontra os seus mais possantes motores? Não é exato que a luz imponderável exerce uma ação química sobre a matéria ponderável? Nós não conhecemos a natureza íntima do perispírito; mas, suponhamos que ele seja formado de matéria elétrica, ou qualquer outra igualmente sutil, por que não teria a mesma propriedade quando fosse dirigida por uma vontade?”
O Livro dos Médiuns - 1ª parte, cap. I, item 3


Em todos os fenômenos mediúnicos se verifica a vontade espiritual instrumentalizada através do perispírito, como confirma o Espírito Lamennais: “O perispírito para nós, Espíritos errantes, é o agente pelo qual nos comunicamos convosco, seja indiretamente por vosso corpo ou vosso perispírito, seja diretamente à vossa alma; donde resultam as infinitas variedades de médiuns e de comunicações.” (O Livro dos Médiuns - 1ª parte, cap. IV, item 51)

Para a produção dos fenômenos — tais como os de tiptologia, transporte, pneumatografia, materialização etc. — os Espíritos manipulam seus próprios fluidos perispirituais, bem como os fluidos do meio ambiente, incluindo os do perispírito dos encarnados, porque “tudo o que foi dito das propriedades do perispírito após a morte se aplica ao perispírito dos vivos” (O Livro dos Médiuns - 2ª parte, cap. VII, item 114). Por consequência, os encarnados capacitados para intermediar a realização desses fenômenos servem aos Espíritos como médiuns de efeitos físicos, às vezes sem nem mesmo ter consciência de sua participação nesses fenômenos, que são operados pelos Espíritos.


William Crookes e a materialização do Espírito Katie King


Em estado de emancipação da alma, também os encarnados podem produzir fenômenos físicos, como Kardec assim explica:

“Sabemos que durante o sono o Espírito readquire parcialmente a sua liberdade, isto é, isola-se do corpo, e é nesse estado que em muitas ocasiões temos a oportunidade de observá-lo. Mas o Espírito — quer o homem esteja morto ou vivo — sempre traz o envoltório semimaterial, que, pelas mesmas causas que já descrevemos, pode adquirir a visibilidade e a tangibilidade.”
O Livro dos Médiuns - 2ª parte, cap. VII, item 114


Nessa condição de desprendimento parcial, levando consigo seu envoltório fluídico, a alma emancipada pode se projetar para longe do corpo físico adormecido e se manifestar tal como um desencarnado, por ação do seu perispírito. Convém saber que nessas excursões anímicas, mesmo estando muito distante, a alma não está inteiramente separada do seu organismo carnal, mas “ela está sempre presa a ele pelo laço que os une; é esse laço que é o condutor das sensações.” (O Livro dos Espíritos - questão 437) O mencionado laço também é chamado de cordão prateado, ou fio de prata; ele é mencionado em várias tradições espiritualistas e está citado até na Bíblia: “Sim, lembre-se dele [de Deus], antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro; antes que o cântaro se despedace junto à fonte, a roda se quebre junto ao poço.” (Eclesiastes, 12)

Quanto aos fluidos mais densos observados nos fenômenos de efeitos físicos mais ostensivos — principalmente os de materializações espirituais — a literatura espiritualista e a cultura popular consagraram-lhes a denominação de ectoplasma, termo criado em 1894 pelo cientista francês Charles Richet, um prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina.


Perispírito e obsessão

O corpo perispirítico está no centro do drama da obsessão, que é, em linhas gerais, a má influência que um Espírito exerce sobre alguém (encarnado ou desencarnado); além de ser o instrumento intermediário de comunicação entre os envolvidos na questão, o perispírito pode ser o alvo específico de certos ataques, que visam causar danos físicos nos obsidiados, ao lado das perturbações psicológicas.

Dentre os inúmeros modos de atuação, o obsessor pode intencionar controlar o corpo alheio (como nos casos de possessão) com o objetivo de constrangê-lo publicamente ou até mesmo de feri-lo fisicamente, como também pode pretender usar sua presa como instrumento intermediário para viciações (cigarro, álcool, drogas, sexo etc.), induzindo-o aos mesmos vícios para depois lhe sugar as energias tal como um parasita (como nos casos de vampirismo). Em todos esses tipos de assédio, a participação do perispírito é imprescindível.

“Assim, Espíritos em lastimável desequilíbrio, com as funções perispirituais em desarmonia, devido à ação deletéria desses germens, podem, espontaneamente, atuar junto aos desencarnados, atraídos por ódio ou simpatia, ou ser conduzidos para perto de encarnados invigilantes, que lhes correspondam à condição, ensejando, por contágio, o surgimento de enfermidades diversas, ou agravando as já existentes.”
O Perispírito, Zalmino Zimmermann - cap. XIV


O processo obsessivo pode resultar em sérios danos no perispírito da pessoa atacada, estendendo-se para o corpo humano dos Espíritos encarnados, cujas complicações são mais ou menos complexas conforme cada caso. André Luiz relata ter testemunhado casos em que Espíritos perturbados não foram capazes de administrar sua própria forma fluídica e, à mercê de assediadores obstinados, acabaram-se perdendo inclusive a forma humana típica no perispírito, que foi então desfigurado até um estágio primitivo chamado de ovoide. Diz ele que “os órgãos do períspirito se voltam, instintivamente, para a sede do governo mental, onde se localizam, ocultos e definhados, no fulcro dos pensamentos em circuito fechado sobre si mesmos, quais implementos potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo. [...] o desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciando-se num corpo ovoide.” (Evolução em Dois Mundos, psicografia de Chico Xavier - cap. 12)


Teoria dos sete corpos

Algumas doutrinas espiritualistas e esotéricas ensinam que os seres humanos são formados por diferentes “camadas corporais”, ou “corpos”; as mais difundidas falam em até sete: o corpo físico e mais seis estruturas astrais, fazendo uma correlação com suas funções. Uma dessas descrições comuns faz a seguinte lista:

  1. Corpo físico humano, ou soma: a mais grosseira de todas as camadas corporais;
  2. Duplo etérico, ou biossoma: corpo vital que anima o corpo físico;
  3. Corpo astral: é a camada que conserva as emoções;
  4. Corpo mental inferior: órgão que capta, guarda e trabalha o conhecimento e a associação de ideias;
  5. Corpo mental superior: campo que guarda as inspirações espirituais e seus projetos evolutivos;
  6. Corpo búdico: contém a memória das reencarnações e os registros cármicos (bons ou ruins);
  7. Corpo átmico: essência do ser, a própria consciência do Espírito, centelha divina individualizada.

O Espírito André Luiz fala da existência de um corpo mental que preside a formação do corpo espiritual (o perispírito propriamente dito, que ele às vezes chama de psicossoma); segundo ele, é nesse corpo mental que fica registrada a memória espiritual. A propósito das disposições de cada corpo, André Luiz propõe:

“Para definirmos de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação.”
Evolução em Dois Mundos, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 2

Espiritualismo Espiritismo
André Luiz Allan Kardec
Corpo físico Corpo físico Corpo físico
Corpo etéreo Perispírito (psicossoma) Perispírito
Corpo astral
Corpo mental inferior
Corpo mental superior
Corpo búdicoCorpo mental
Corpo átmico Espírito Espírito

Tríade do encarnado: Espírito, perispírito e corpo humano


Aura perispiritual

Em sintonia com a sua potência magnética — propriedade que permite ao perispírito gerar, absorver e utilizar energias diretamente ligadas aos sentimentos e emoções do Espírito —, a literatura espiritualista versa ainda sobre uma emanação especial do corpo espiritual a que se dá o nome de aura, que então envolve todo o ser numa espécie de campo magnético que reflete “seu padrão psíquico, como sua situação emocional e o estado físico (se encarnado) do momento.” (O Perispírito, Zimmermann - cap. VIII) Esta proposição igualmente está presente na obra de André Luiz:

“Articulando, ao redor de si mesma, as radiações das sinergias funcionais das agregações celulares do campo físico ou do psicossomático, a alma encarnada ou desencarnada está envolvida na própria aura ou túnica de forças eletromagnéticas, em cuja tessitura circulam as irradiações que lhe são peculiares.”
Mecanismos da Mediunidade, (André Luiz) Chico Xavier e Waldo Vieira - cap. X


A propósito dessa emanação energética, muitos experimentos têm sido feitos com o objetivo de registrar tais eflúvios, dentre os quais o da Fotografia Kirlian, realizada em 1939 pelo casal russo Valentina Khrisanfovna e Semyon Davidovich Kirlian, que teve grande repercussão na comunidade científica internacional. Em 1999 a técnica foi reconhecida pelo Ministério da Saúde da Federação Russa e em 2000 pela Academia de Ciências da Rússia, sendo recomendado o seu uso nas instituições de saúde daquele país como um instrumento científico auxiliar de diagnóstico, recomendado para uso na prática médica.


Kirliangrafia de um polegar feminino, 1989


Em suma, ainda há muito o que aprendermos acerca de todas as potencialidades da natureza física do mundo espiritual, mormente da constituição, funções e propriedades do perispírito.


Veja também


Referências

  • O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Ebook.
  • O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - Ebook.
  • Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, Allan Kardec - Ebook.
  • A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, Allan Kardec - Ebook.
  • Obras Póstumas, Allan Kardec - Ebook.
  • Revista Espírita - coleção de 1867, Allan Kardec - Ebook.
  • O Céu e o Inferno, Allan Kardec - Ebook.
  • O Perispírito, Zalmino Zimmermann. Editora Allan Kardec, Campinas - SP. 2002.
  • Estudo Aprofundado Da Doutrina Espírita - EADE, livro V: Filosofia e Ciência espíritas. FEB - Ebook.
  • L’Évolution Animique [Evolução Anímica], Gabriel Delanne - Gallica.
  • Ação e Reação, (André Luiz) Chico Xavier - Editora FEB.
  • Evolução em Dois Mundos, (André Luiz) Chico Xavier - Editora FEB.
  • Mecanismos da Mediunidade, (André Luiz) Chico Xavier e Waldo Vieira - Editora FEB.
  • Verbete Perispírito na Wikipédia.
  • Verbete Fotografia Kirlian na Wikipédia.


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Índice de verbetes
A Gênese
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo
Abreu, Canuto
Adolphe Laurent de Faget
Agênere
Alexandre Aksakof
Allan Kardec
Alma
Alma gêmea
Amélie Gabrielle Boudet
Anália Franco
Anastasio García López
Andrew Jackson Davis
Anna Blackwell
Arigó, Zé
Arthur Conan Doyle
Auto de Fé de Barcelona
Auto-obsessão.
Banner of Light
Baudin, Irmãs
Bem
Berthe Fropo
Blackwell, Anna
Boudet, Amélie Gabrielle
Cairbar Schutel
Canuto Abreu
Caridade
Carma
Caroline Baudin
Célina Japhet
Cepa Espírita
Charlatanismo
Charlatão
Chevreuil, Léon
Chico Xavier
Cirne, Leopoldo
Codificador Espírita
Comunicabilidade Espiritual
Conan Doyle, Arthur
Consolador
Crookes, William
Daniel Dunglas Home
Davis, Andrew Jackson
Denis, Léon
Dentu, Editora
Dentu, Édouard
Desencarnado
Deus
Didier, Pierre-Paul
Divaldo Pereira Franco
Dogma
Dogmatismo
Doutrina Espírita
Doyle, Arthur Conan
Dufaux, Ermance
Ectoplasma
Ectoplasmia
Ecumenismo
Editora Dentu
Édouard Dentu
Emancipação da Alma
Epífise
Ermance Dufaux
Errante
Erraticidade
Errático
Escala Espírita
Escrita Direta
Espiritismo
Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec
Espírito da Verdade
Espírito de Verdade
Espírito Errante
Espírito Santo
Espírito Verdade
Espiritual
Espiritualismo
Espiritualismo Moderno
Evangelho
Expiação
Faget, Laurent de
Fascinação
Fora da Caridade não há salvação
Fox, Irmãs
Francisco Cândido Xavier
Franco, Anália
Franco, Divaldo Pereira
Fropo, Berthe
Galeria d'Orléans
Gama, Zilda
Glândula Pineal
Henri Sausse
Herculano Pires, José
Herege
Heresia
Hippolyte-Léon Denizard Rivail
Home, Daniel Dunglas
Humberto de Campos
Imortalidade da Alma
Inquisição
Irmão X
Irmãs Baudin
Irmãs Fox
Jackson Davis, Andrew
Japhet, Célina
Jean Meyer
Jean-Baptiste Roustaing
Joanna de Ângelis
Johann Heinrich Pestalozzi
José Arigó
José Herculano Pires
José Pedro de Freitas (Zé Arigó)
Julie Baudin
Kardec, Allan
Kardecismo
Kardecista
Karma
Lachâtre, Maurice
Lamennais
Laurent de Faget
Léon Chevreuil
Léon Denis
Leopoldo Cirne
Leymarie, Pierre-Gaëtan
Linda Gazzera
Livraria Dentu
London Dialectical Society
Madame Kardec
Mal
Maurice Lachâtre
Mediatriz
Médium
Mediunidade
Mesas Girantes
Metempsicose
Meyer, Jean
Misticismo
Místico
Moderno Espiritualismo
Necromancia
O Livro dos Espíritos
O Livro dos Médiuns
Obras Básicas do Espiritismo
Obsediado
Obsessão
Obsessor
Oração
Palais-Royal
Panteísmo
Paráclito
Parasitismo psíquico
Pélagie Baudin
Percepção extrassensorial
Pereira, Yvonne A.
Perispírito
Pestalozzi
Pierre-Gaëtan Leymarie
Pierre-Paul Didier
Pineal
Pires, José Herculano
Pneumatografia
Possessão
Prece
Pressentimento
Projeto Allan Kardec
Quiromancia
Religião
Revelação Espírita
Rivail, Hypolite-Léon Denizard
Roustaing, Jean-Baptiste
Santíssima Trindade
Santo Ofício
Sausse, Henri
Schutel, Cairbar
Sentido Espiritual
Sexto Sentido
Silvino Canuto Abreu
Sociedade Dialética de Londres
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
SPEE
Subjugação
Superstição
Terceira Revelação
Tribunal do Santo Ofício
Trindade Universal
Ubiquidade
UEF
União Espírita Francesa
Vampirismo
Verdade, Espírito
Videira Espírita
William Crookes
X, Irmão
Xavier, Chico
Xenoglossia
Yvonne do Amaral Pereira
Zé Arigó
Zilda Gama

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