Kardecismo é um termo derivado do sobrenome Kardec, em alusão a Hippolyte-Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo Allan Kardec, desde quando assumiu a missão de codificar a Doutrina Espírita.
Literalmente, kardecismo (Kardec + ismo) significa "doutrina de Kardec", ou "doutrina kardecista", aplicável também como sinônimo de Espiritismo, ou Doutrina Espírita, enquanto sistema específico baseado nos conceitos fundamentais propostos por Allan Kardec. Essa designação tornou-se corrente entre os primeiros adeptos do movimento espírita e também fora desse círculo, sendo inclusive adotada por enciclopédias, como a de Oxford e a Barsa.
Muitos pensadores espíritas, porém, resistem em aceitar tal designação sob a alegação comum de que, segundo estes, o termo denota "erroneamente" a ideia de que o Espiritismo seja obra de Allan Kardec, quando, na verdade, é a doutrina dos Espíritos.
Em dado momento, o codificador espírita desconsiderou tal qualificativo, enaltecendo a verdadeira autoria da referida doutrina:
"Entre o Espiritismo e outros sistemas filosóficos há esta diferença capital; que todos estes são obras de homens mais ou menos esclarecidos, ao passo que, naquele que me atribui (o Espiritismo), eu não tenho o mérito da invenção de um só princípio. Diz-se: a filosofia de Platão, de Descartes, de Leibnitz; nunca se poderá dizer: a doutrina de Allan Kardec; e isto, felizmente, pois que valor pode ter um nome em assunto de tamanha gravidade? O Espiritismo tem auxiliares de maior preponderância, ao lado dos quais somos simples átomos. "
Allan Kardec, O Que é o Espiritismo - Cap. I, 2° diálogo: 'Elementos de convicção'
De outra feita, num discurso em 1867, o mesmo Kardec fez uso do termo, sem expressar repulsa absoluta – o que demonstra ainda que ele tinha conhecimento do uso corrente deste qualificativo:
"Os espíritas, qualquer que seja o matiz de suas posições – sejam americanos ou europeus, kardecistas, como se diz, ou outros, seja qual for o nome que se lhes dê –, devem todos, portanto, se forem coerentes com seus princípios, dar-se as mãos, considerando que marcham na direção do mesmo objetivo: a emancipação moral da humanidade."
Discurso de Allan Kardec - 1867
Projeto Allan Kardec - UFJF
À vista dessa despreocupação exagerada com as denominações, outros estudiosos espíritas, a exemplo dos enciclopedistas, consideram cabível — e, ocasionalmente, até apropriado — o uso do termo kardecismo, em razão de muitas vezes ser necessário distinguir a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec de outras concepções que se apropriam do título Espiritismo e espírita, em que Kardecismo equivale a Espiritismo Kardecista. Sobre aquela recomendação do codificador, para que não lhe fosse atribuído qualquer mérito, estes estudiosos põe na conta da modéstia de Kardec, uma vez que a codificação — de acordo com estes — não lhe foi ditada pronta, mas foi sim habilmente compilada por ele.
De fato, as expressões espiritismo e espírita foram generalizadas e aos poucos substituíram os termos espiritualismo e espiritualista, relativos ao movimento conhecido como Espiritualismo Moderno. Mesmo Allan Kardec — o criador daquelas expressões — as aplicou de maneira geral, designando fenômenos fora do âmbito da Doutrina Espírita (sistema), por exemplo, classificando como "manifestações espíritas" ocorrências mediúnicas quaisquer. Provavelmente, ele o fez por não supor que a doutrina que ele iria codificar fosse ser tão rapidamente aceita. Uma vez que a Doutrina Espírita se estabeleceu e sobrepujou sobre as ideias generalizadas do Espiritualismo Moderno, a palavra espiritismo passou a ser tecnicamente aplicada exclusivamente à doutrina codificada por Kardec e, de maneira semelhante, o adjetivo espírita (o mesmo que espiritista) foi sendo restringido ao escopo dos conceitos kardecistas.
Há ainda quem proponha que o termo Espiritismo continue sendo aplicável a todo o universo correspondente ao Espiritualismo Moderno e à prática geral da mediunidade, enquanto que o conjunto dos conceitos doutrinários ditados pelos Espíritos e codificados por Kardec seja chamado apenas de Doutrina Espírita. Ainda nesse contexto, a expressão Kardecismo ficaria restrita às ideias particulares alinhadas com o pensamento de Allan Kardec.
Em suma, compreendemos Kardecismo como sinônimo de Espiritismo e de Doutrina Espírita (termos equivalentes), significando então o conjunto de conceitos codificados por Allan Kardec, em acordo com a revelação dos Espíritos superiores, também caracterizada como a Terceira Revelação. As demais doutrinas, ainda que sejam compostas de algumas concepções similares, mas que não acompanham integralmente a codificação espírita, estas são classificadas como espiritualistas.
Referências
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