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Índice de verbetes


Andrew Jackson Davis



Andrew Jackson Davis (Blooming Grove, EUA, 11 de agosto de 1826 – Watertown, EUA, 13 de janeiro de 1910) foi um célebre clarividente americano, um dos precursores do movimento Espiritualismo Moderno, pelo que é conhecido como o “Profeta da Nova Revelação”, indiretamente contribuindo para o surgimento do Espiritismo. Era dotado de uma fantástica mediunidade e de suas experiencias espirituais redigiu importantes livros e influenciou gerações.


Andrew Jackson DavisAndrew Jackson Davis (1826-1910)



Biografia

Davis nasceu em uma família humilde e sem qualquer instrução escolar, num vilarejo no interior do Estado de Nova Iorque, às margens do rio Hudson. Seu pai trabalhava com couros, mas não tinha emprego fixo e ainda era alcoólatra. Por outro lado, sua mãe era religiosa e escrupulosa. No seu livro A Vara Mágica: uma Autobiografia, Davis conta detalhes de sua infância e da vida daquele povo analfabeto, embora instintivamente devotado às coisas espirituais. Naquelas cercanias se desenvolveram a religião dos Mórmons e o Espiritualismo Moderno.

Nesse ambiente rude, Davis cresceu de corpo raquítico e mente estreita. Além disso, os problemas financeiros da família faziam com que mudassem constantemente de cidade, o que impediu o garoto de frequentar a escola com regularidade, tendo apenas alguns anos de estudo em toda a sua vida. Como um meio de obter uma renda para a família e para si, desde cedo encaminhou-se para o ofício de sapateiro.


Descoberta do Mesmerismo

Ainda na mocidade começou a ouvir vozes espirituais, em geral, gentis e aconselhadoras. Em seguida à clariaudiência nele desabrochou a vidência especial: por ocasião da morte de sua mãe, teve uma notável visão de uma casa muito amável, numa região brilhante, que imaginou ser o lugar para onde sua mãe tinha ido. Davis, porém, nada compreendia daqueles fenômenos que lhe envolviam.

Em 1843, quando tinha apenas dezessete anos, Davis ficou impressionado com uma palestra do Dr. Grimes, professor no Castleton Medical College, sobre as técnicas de "magnetização animal" criadas pelo médico suábio Franz Anton Mesmer e que vinham sendo utilizadas à época como terapia em busca da cura para diversos tipos de enfermidades. Logo mais veio à sua aldeia um saltimbanco que exibia as maravilhas do mesmerismo; ele fez uma despretensiosa experiência com Davis, em meio a outros jovens da sua turma, e um notável poder de clarividência então se descortinou ante os olhos daquele rapaz.

Entre outros fabulosos dons de Davis constava o de, em transe, entrever coisas, incluso o interior do corpo humano. Davis literalmente “enxergava sem os olhos”, o que naturalmente o levou a brincar com essa clarividência, por exemplo, lendo cartas com os olhos vendados, para divertimento dos amigos. Até que um respeitado senhor da região — o alfaiate Wiliam Livingstone —, que tinha alguma noção do Magnetismo Animal de Mesmer, passou a magnetizá-lo e orientá-lo no sentido de usar seus dons com proveito comum: fazer diagnóstico médicos, que o rapaz realizava com incrível precisão identificando órgãos danificados e caracterizados pelo espectro escuro que irradiavam e que os olhos espirituais de Davis alcançavam enquanto em transe, e do que esquecia ao retomar o estado de vigília comum. Em alguns casos, além de diagnosticar, o clarividente prescrevia tratamentos, cujas testemunhas alegaram espantoso sucesso.


O despertar intelectual

A cada novo desdobramento espiritual Davis desenvolvia uma compreensão sobre tudo o que lhe passava, mas nada excepcional. Todavia, na tarde de 6 de março de 1844, afirmou ter sido inesperadamente envolvido por uma força que o fez levitar e o teria arrebatado em uma rápida jornada, num estado de semitranse, de Poughkeepsie, onde morava, até às montanhas Catskill, distantes dali 60 quilômetros. Nesta montanha, Davis teve contato com dois anciões, que ele identificou como sendo o filósofo e médico grego Cláudio Galeno e o célebre espiritualista sueco Emanuel Swedenborg; estes lhe ministraram conhecimentos diversos, mas especialmente em medicina e filosofia moral, experiência tal que lhe possibilitou uma extraordinária iluminação intelectual.


Aprofundamento espiritual

Verificou maiores forças a se agitarem em si mesmo, fora do alcance da competência magnética do Sr. Livingston, e então recorreu à sustentação de um novo magnetizador, mais experiente. Para tal fim, o Doutor Lyon abandonou o seu consultório e foi a Nova Iorque trabalhar com Davis, procurando também o Reverendo William Fishbough para servir de secretário. Pouco tempo depois o clarividente desenvolveu por si mesmo a capacidade de entrar em transe sem auxílio de indução magnética de terceiros. No entanto, a parceira com o Dr. Lyon e o reverendo continuaram. Numa sincronia de intentos, os três buscavam conhecer os segredos da natureza espiritual. Nesse ínterim, sua memória subconsciente se abriu e ele pôde abarcar o largo alcance de suas experiências.

Em 1846, Davis com apenas vinte anos de idade, começou a ditar um livro baseado nessas revelações durante um período de quinze meses. O livro foi publicado em 1847, quando ele tinha 21 anos de idade. O conteúdo do livro tratava de diversos assuntos de cunho espiritualista, que incluíam os sete planos da existência, saúde mental e física, astronomia, física, química, filosofia, política, dentre outros. Os ditados, compilados, deram origem ao seu primeiro livro, The Principles of Nature, Her Divine Revelations, and a Voice to Mankind (Os Princípios da Natureza, Suas Divinas Revelações e uma Voz para a Humanidade). As anotações dos ditados de Davis foram feitas pelo Reverendo Fishbough.

Sábios e estudiosos de todas as vertentes vieram conferir os experimentos com Davis e alguns o comparavam a Swedenborg. Arthur Conan Doyle — escritor criador do famoso personagem Sherlock Holmes — distinguiu os valores de cada qual:

"Há que se compreender que um tubo não pode conter mais do que o seu diâmetro lhe permite. O diâmetro de Davis era muito diferente do de Swedenborg. Cada um recebia conhecimento quando num estado de iluminação. Mas Swedenborg era o homem mais instruído da Europa, enquanto Davis era um jovem tão ignorante quanto se podia encontrar no Estado de Nova Iorque. A revelação de Swedenborg talvez fosse a maior, posto que, muito provavelmente, pontilhada por seus próprios conhecimentos. A revelação de Davis era, comparativamente, um milagre maior."
A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle - cap. 3

O “milagre” era estrondosamente intrigante. Depois de assistir uma sessão com Davis, Dr. George Bush, professor de Hebraico da Universidade de Nova Iorque testemunhou:

"Afirmo solenemente que ouvi Davis citar corretamente a língua hebraica em suas palestras, e demonstrar um conhecimento de geologia muito admirável numa pessoa da sua idade, ainda quando tivesse devotado anos a esse estudo. Discutiu, com grande habilidade, as mais profundas questões de arqueologia histórica e bíblica, de mitologia, da origem e das afinidades das línguas, da marcha da civilização entre as várias nações da Terra, de modo que fariam honra a qualquer estudante daquela idade, mesmo que, para alcançá-las, tivesse consultado todas as bibliotecas da Cristandade."
Idem

O famoso escritor Edgar Allan Poe o visitou muitas vezes e nele se inspirou para compor seus contos. Admirava-se com as “ideias futuristas de Davis” que havia previsto a invenção do automóvel e de veículos aéreos acionados por uma força motriz de natureza explosiva, as máquinas de escrever e locomotivas movidas por motores de combustão interna.


A profecia da Nova Revelação

No seu livro Os Princípios da Natureza, publicado em 1847, Andrew Jackson Davis previu o surgimento do movimento que abalaria o século XIX. Ele predisse a manifestação ostensiva dos Espíritos com as criaturas humanas, adiantando que o advento desses dias não estava muito distante.

"É uma verdade que os espíritos se comunicam entre si, quando um está no corpo e outro em esferas mais altas — e isto também quando uma pessoa em seu corpo é inconsciente do influxo e, assim, não se pode convencer do fato. Não levará muito tempo para que essa verdade se apresente como viva demonstração. E o mundo saudará com alegria o surgimento dessa Era, ao mesmo tempo em que o íntimo dos homens será aberto e estabelecida a comunicação espiritual, tal qual a desfrutam os habitantes de Marte, Júpiter e Saturno."
Os Princípios da Natureza, A. J. Davis

Foi um prelúdio daquilo que surgiria um ano mais tarde, em 31 de março de 1848, quando se estabeleceu um sistema de intercâmbio com o plano espiritual, através das médiuns irmãs Fox, no famoso caso de Hydesville, considerado o marco do Espiritualismo Moderno. Para aquele exato dia, consta no diário de Davis a seguinte nota:

"Esta madrugada um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz, suave e forte, dizer: ‘Irmão, um bom trabalho foi começado — olha! Surgiu uma demonstração viva’. Fiquei pensando o que queria dizer semelhante mensagem."
A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle - cap. 3

Davis antecipou as ideias primordiais que mais tarde seriam fundamentadas pela codificação do Espiritismo com Allan Kardec, conforme o controle universal do ensino dos Espíritos. Conan Doyle sintetiza essas ideias de Andrew Jackson Davis:

"Em suas visões espirituais, Davis viu uma disposição do universo que corresponde proximamente à que foi apresentada por Swedenborg, adicionada pelo ensino posterior dos espíritos e aceita pelos espiritualistas. Viu uma vida semelhante à da Terra, uma vida que pode ser chamada semimaterial, com prazeres e objetivos adequados à nossa natureza, que de modo algum se havia transformado pela morte. Viu estudo para os estudiosos, tarefas geniais para os enérgicos, arte para os artistas, beleza para os amantes da Natureza, repouso para os cansados. Viu fases graduadas da vida espiritual, através das quais lentamente se sobe para o sublime e para o celestial. Levou a sua magnífica visão acima do presente universo e o viu como este uma vez mais se dissolvia numa nuvem de fogo, da qual se havia consolidado, e, uma vez mais se consolidado para formar o estágio, no qual uma evolução mais alta teria lugar e onde uma classe mais alta se iniciaria do mesmo modo que algures a classe mais baixa. Viu que esse processo se renovava muitas vezes, cobrindo trilhões de anos e sempre trabalhando no sentido do refinamento e da purificação. Descreveu essas esferas como anéis concêntricos em redor do mundo; mas como admite que nem o tempo nem o espaço são claramente definidos em suas visões, não devemos tomar a sua geografia muito ao pé da letra. O objetivo da vida é preparar para o adiantamento nesse tremendo esquema; e o melhor método para o progresso humano é livrar-se do pecado — não só dos pecados geralmente reconhecidos, mas também dos pecados do fanatismo, da estreiteza de vistas e da dureza, que são manchas especiais, não só na efêmera vida da carne, mas na permanente vida do espírito. Para tal fim o retorno à vida simples, às crenças simples e à fraternidade primitiva se tornam essenciais, O dinheiro, o álcool, a luxúria, a violência e o sacerdócio — no seu limitado sentido — constituem os maiores empecilhos do progresso humano."
Idem

Apesar de ser admirado por conservar o mesmo espírito de humildade, bondade e desprendimento material, Davis não deixou de ser duramente atacado pelo discurso de religiosos conservadores, que viram em seus dons mediúnicos um misticismo satânico. A tais críticas, ele respondia com um sorriso tolerante. Com o surgimento do Espiritualismo Moderno, quando outros tantos médiuns vieram figurar os salões nobres com as sessões de Mesas Girantes e outros espetáculos, Davis se viu justificado, pois enfim — como previra — não estava só naquele terreno hostil desafiando crenças tradicionais.


Andrew Jackson DavisAndrew Jackson Davis



Últimos dias e legado

Sua autobiografia A Vara Mágica registra seu trabalho somente até 1857, quando ainda estava na faixa dos trinta anos. Daí até os seus últimos dias, tendo morrido aos oitenta e quatro anos, diz-se que viveu dignamente, trabalhando como diretor de uma livraria em Boston, alternando entre a leitura e a escrita, além da prescrição de ervas para os pacientes que o procuravam.

As incursões anímicas de Davis renderam as seguintes publicações assinadas por ele:

  • The Principles of Nature, Her Divine Revelations, and a Voice to Mankind (Os Princípios da Natureza, Suas Divinas Revelações e uma Voz para a Humanidade) - 1847;
  • The Great Harmonia (A Grande Harmonia) - 1850-1861;
  • The Philosophy of Special Providences (A Filosofia das Providências Especiais) - 1850;
  • The Magic Staff: an Autobiography (A Vara Mágina: uma Autobiografia) - 1857;
  • A Stellar Key to the Summer Land (Uma Chave Estelar para o Reino do Verão) - 1868;
  • Views of Our Heavenly Home (Visões de Nossa Casa Celestial) - 1878.

Para codificar o Espiritismo, Allan Kardec valeu-se do legado deixado por Davis e o considerou como um grande contributo para a formação da Terceira Revelação. Na Revista Espírita de abril de 1862, o codificador indicou a leitura de uma biografia, publicada por Clémence Guérin, sobre aquele a quem chamou de “um dos principais escritores espiritualistas dos Estados Unidos”.


Referências

  • The Magic Staff: an Autobiography, Andrew Jackson Davis.
  • Revista Espírita - abril de 1862, Allan Kardec - Ebook.
  • A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle - Ebook.


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A Gênese
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo
Abreu, Canuto
Adolphe Laurent de Faget
Agênere
Alexandre Aksakof
Allan Kardec
Alma
Alma gêmea
Amélie Gabrielle Boudet
Anália Franco
Anastasio García López
Andrew Jackson Davis
Anna Blackwell
Arigó, Zé
Arthur Conan Doyle
Auto de Fé de Barcelona
Auto-obsessão.
Banner of Light
Baudin, Irmãs
Bem
Berthe Fropo
Blackwell, Anna
Boudet, Amélie Gabrielle
Cairbar Schutel
Canuto Abreu
Caridade
Carma
Caroline Baudin
Célina Japhet
Cepa Espírita
Charlatanismo
Charlatão
Chevreuil, Léon
Chico Xavier
Cirne, Leopoldo
Codificador Espírita
Comunicabilidade Espiritual
Conan Doyle, Arthur
Consolador
Crookes, William
Daniel Dunglas Home
Davis, Andrew Jackson
Denis, Léon
Dentu, Editora
Dentu, Édouard
Desencarnado
Deus
Didier, Pierre-Paul
Divaldo Pereira Franco
Dogma
Dogmatismo
Doutrina Espírita
Doyle, Arthur Conan
Dufaux, Ermance
Ectoplasma
Ectoplasmia
Ecumenismo
Editora Dentu
Édouard Dentu
Emancipação da Alma
Epífise
Ermance Dufaux
Errante
Erraticidade
Errático
Escala Espírita
Escrita Direta
Espiritismo
Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec
Espírito da Verdade
Espírito de Verdade
Espírito Errante
Espírito Santo
Espírito Verdade
Espiritual
Espiritualismo
Espiritualismo Moderno
Evangelho
Expiação
Faget, Laurent de
Fascinação
Fora da Caridade não há salvação
Fox, Irmãs
Francisco Cândido Xavier
Franco, Anália
Franco, Divaldo Pereira
Fropo, Berthe
Galeria d'Orléans
Gama, Zilda
Glândula Pineal
Henri Sausse
Herculano Pires, José
Herege
Heresia
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Home, Daniel Dunglas
Humberto de Campos
Imortalidade da Alma
Inquisição
Irmão X
Irmãs Baudin
Irmãs Fox
Jackson Davis, Andrew
Japhet, Célina
Jean Meyer
Jean-Baptiste Roustaing
Joanna de Ângelis
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José Herculano Pires
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Kardecismo
Kardecista
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Léon Denis
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Maurice Lachâtre
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Místico
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